Esta tendência para criar em torno de mim um outro mundo,

igual a este mas com outra gente, nunca me saiu da imaginação. Teve várias fases, entre as quais esta, sucedida já em maioridade. Ocorria-me um dito de espírito, absolutamente alheio, por um motivo ou outro, a quem eu sou, ou a quem suponho que sou. Dizia-o, imediatamente, espontaneamente, como sendo de certo amigo meu, cujo nome inventava, cuja história acrescentava, e cuja figura — cara, estatura, traje e gesto — imediatamente eu via diante de mim. E assim arranjei, e propaguei, vários amigos e conhecidos que nunca existiram, mas que ainda hoje, a perto de trinta anos de distância, oiço, sinto, vejo. Repito: oiço, sinto vejo...

Relatório: Intervenção

 

Etapas da A/R/COGRAFIA: Intervenção

 

“Esta é uma etapa objetivo num projeto a/r/cográfico, pois marca a exibição e a comunicação públicas e formais do projeto.” (Veiga, 2020)

 

Nesta etapa são definidos os planeamentos relacionados com a apresentação e exibição do artefacto. Assim, para o projeto em desenvolvimento, existem características específicas, relacionadas com o tipo de projeto que se apresenta – neste caso o seu core está no programa desenvolvido, e não num artefacto que envolve um grande desenvolvimento e implementação físicos.

 

Características finais do Artefacto

Tratando-se de um projeto cujo peso está no desenvolvimento e programação e não na construção de um artefacto físico, as suas principais características representam-se pelo programa desenvolvido, que pode ser disponibilizado num espaço virtual na Internet.

O projeto possui quatro etapas na narrativa, divididas páginas web:

1ª parte - introdução/ambientação

2ª parte - entrada imersiva com vídeo estimulando sentidos para transmitir ao utilizador a sensação de ser parte integrante da ação

3ª parte - interação e criação de textos generativos por temas

4ª parte - saída imersiva com vídeo (que termina reiniciando o projeto na 1ª parte)

Características finais da Exposição do Artefacto

O projeto poderá ser acedido online, uma vez que se pretende a sua hospedagem através do Gitshub, com recurso ao Gits Pages.

 

Planificação de transporte e montagem

Pelas características do projeto não são necessários grandes esforços de logística. Contudo, no caso da exposição em espaços públicos, será necessário garantir a disponibilização do material e equipamento necessários. Esses materiais e equipamentos são simples de transportar e não exigem um grande esforço para a sua disponibilização pois são de uso comum:

Mesa e cadeira;

Candeeiro (luz);

Computador, monitor, rato e headphones (incluindo todos os cabos necessários);

Para a sua utilização será necessário garantir a existência de pontos de eletricidade e de internet;

 

Produção de documentação para a exibição (folha de sala, imagens, diagramas, conceito para o público).

 

Conceito:

Pessoa Generativo. Como sabemos como seria se nem ele sabe o que foi?  é um projeto de poesia generativa, com utilização de textos originais de Fernando Pessoa. Utilizando um jogo de palavras, partindo de um dos seus versos mais icónicos "Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?", este projeto pretende evocar o espírito multifacetado do poeta, constantemente atormentado pelas inúmeras almas que nele surgiam e pela impulsividade da escrita. Apela igualmente ao imprevisível, à impossibilidade de prever o output da criação literária de forma generativa, e, dessa forma, representa esta questão em aberto que remete para a nossa imaginação: se Fernando Pessoa vivesse na atualidade, como seriam, hoje, as suas criações literárias? Com este projeto pretende-se perpetuar o renascimento do poeta (ou a sua continuidade artística) na era digital e oferecer a possibilidade de contemplação da sua evolução na atualidade, como uma extensão dos pressupostos deixados pela sua heteronímia, musicalidade e tonalidade dos seus versos. O público poderá ter uma experiência de ser o poeta, ele-próprio, colocando-se no seu lugar, sentindo-se na sua pessoa enquanto autor e criador de textos generativos, “assinados” por um novo heterónimo – o autor de poesia generativa – Tomás Xavier.

 

Objetivo de intervenção/comunicação

Este projeto procura proporcionar experiências visuais/sensoriais, apoiadas na "surpresa", e novidade a cada poema gerado, podendo também causar estranheza, na desconstrução de poemas representativos do poeta. Utilizando o programa para geração automática de textos desordenados, por temas selecionados, criados com recurso a um dicionário lexical composto de textos originais de Fernando Pessoa, a semântica dos novos textos transportará as palavras do poeta para novas criações textuais, incentivando o questionamento e a imaginação do público quanto ao que poderia ser um Fernando Pessoa nos dias de hoje. Apelando a sensações e emoções, experiências visuais e sonoras, a sua fruição oferece uma experiência diferenciada no contacto com a poesia pessoana. Também possibilita a criação de novas criações literárias, “assinadas” por um novo heterónimo - Tomás Xavier, resultantes da compilação de textos gerados e guardados pelo público, no decorrer da sua experiência.

 

Instruções de utilização/usufruto da obra

A fruição de Pessoa Generativo é experiência individual. Antes de iniciar a experiência de criação de texto generativo, o público/leitor deverá conhecer um pouco sobre Tomás Xavier. Este heterónimo possui uma história, uma personalidade própria, pelo que, conhecer um pouco da sua pessoa poderá melhorar a experiência de interação com artefacto. O programa possui diferentes páginas web, pelo que será importante seguir a sua narrativa, não saltar etapas, usufruindo de toda a componente visual e sonora e de uma experiência completa.

1º Assistir o vídeo inicial, e “ouvir” a mente do poeta. Este momento representa a génese de Tomás Xavier, materializada nas várias vozes que se fazem ouvir. Quando se fizer silêncio pode seguir para a página seguinte.

2º Assistir o vídeo imersivo, onde serão estimulados diversos sentidos em simultâneo. Este vídeo transmite ao público/leitor a sensação de ser parte integrante da ação, e no momento da criação escrita, é automaticamente encaminhado para a página seguinte.

3º O público/leitor pode usufruir da experiência de criar poemas generativos, por temas, utilizando os botões disponíveis para o efeito. Cada um oferece diferentes experiências visuais e auditivas. Pode optar por guardar textos gerados. Ao finalizar a experiência, pode deve continuar para a página seguinte.

4º Assistir o vídeo final que completa a experiência de imersão do segundo vídeo, onde se despede de Tomás Xavier. Quando o vídeo termina, o programa reinicia, ficando pronto para apreciação da próxima pessoa.

 

Diagrama técnico da instalação


Diagrama conceptual


Folha de sala

Desenvolvida no módulo de CIAD, num projeto de curadoria colaborativo, a folha de sala é conjunta com todos os projetos/artistas. Contém as informações de cada projeto, uma imagem do projeto, título, sinopse, nome do artista, minibiografia e fotografia do artista. Apresenta também uma breve informação da exposição Rizoma. Inicialmente foi feito um esboço, mas as dimensões limitavam a sua impressão, pelo que foi definido um novo formato:

Esboço inicial de folha de sala



Folha de sala frente (versão para impressão)



Folha de sala, verso (versão para impressão)


A instalação do projeto será efetuada na sala 4, na exposição RIZOMA, a ocorrer no Retiro Doutoral:

Percurso pelo espaço da exposição RIZOMA. Fonte: UAlg/UAb



A instalação do projeto na sala não requer muitos esforços ou especificidades. Recomenda-se que a sala possua luminosidade muito baixa, e essa característica está igualmente de acordo com os outros dois projetos que serão exibidos nessa sala, sendo essa organização estudada e definida no projeto de curadoria desenvolvido em conjunto com todos os artistas. Os requisitos necessários são a existência de ponto de eletricidade, mesa, cadeira e internet.

Relativamente às imagens para divulgação, foram extraídas algumas do programa propriamente dito, e ainda obtidas fotografias de uma sugestão de instalação, que se apresentam de seguida. Foi também criado um vídeo de apresentação do artista e do projeto, e o mesmo pode ser visualizado aqui:


     Vídeo de apresentação

Imagens:


Inicio do progama sem ação do utilizador

Vídeo onde se "apresenta" Tomás Xavier



Principal ecrã de interação para criação de textos generativos



Exemplo de instalação



Para a apresentação e divulgação do projeto, foram igualmente reunidas as seguintes informações, que são relevantes para reconhecer as características do mesmo, quer ao nível conceptual quer ao nível de desenvolvimento/implementação.


Tecnologias e técnicas utilizadas no seu desenvolvimento 

O resultado deste projeto é fruto do desenvolvimento de um programa que inclui a combinação de diferentes técnicas e tecnologias:

Vídeos AI: Deforum_Stable_Diffusion.ipynb 
Vídeos Tomás: MovieStorm
Vozes: TTS - https://freetts.com/ 
Música: Pixies, Where Is My Mind (piano), obtido no youtube em: https://www.youtube.com/watch?v=XxthmuqWF1Q
Sons Typewriter: SoundJay, clips obtidos em: https://www.soundjay.com/typewriter-sounds.html
Miro Video Converter: Utilizado para conversão de formatos de som e vídeos para mp4
Online Mp3 cutter: Utilizado para manipulação de clips de som, corte e efeitos, disponível em: https://mp3cut.net/
Versionamento e hospedagem: Gits e GitsHub
Editor: Visual Studio Code
Programação: HTML, CSS, JavaScript e P5.js


Referências e influências estéticas 

As referências e influências estéticas neste projeto são evidentes. Por um lado, a poética pessoana povoada de heterónimos que, apesar de serem reconhecidos como a marca identitária de Fernando Pessoa, continuam a provocar discussão e discordância entre os seus estudiosos. Para alguns, o fenómeno vai além da escrita, tendo bastante influência da psicologia deste autor que era, em si, muitos autores. Para outros, é apenas um jogo literário dispensável para a apreciação da sua obra. Por outro lado, a arte generativa aliada à escrita e à poesia experimental no panorama da literatura portuguesa. Estas formas de criação artística têm vindo a ser explorados pelos autores do projeto PO.EX. As influências neste projeto surgiram particularmente do trabalho de Rui Torres, com a sua investigação criativa – Um Corvo Nunca Mais – enquanto “polifonia de elementos variados (e variáveis) sujeitos a uma encenação não-linear”.

Referências:

Veiga, P. A. (2020). O Museu de Tudo em Qualquer Parte: arte e cultura digital - interferir e curar. Coleção Humanitas, Centro de Investigação em Artes e Comunicação. Grácio Editor. https://repositorioaberto.uab.pt/handle/10400.2/11265